Hoje escrevo aos irmãos de caminhada militantes, sobre um tema delicado para a Pastoral da Juventude na Arquidiocese de Florianópolis: a nossa (falta de) participação no Grito dos Excluídos. Digo que escrevo para os militantes nesse momento porque a primeira dificuldade dessa conversa ser mais ampla é que a maioria de nossos jovens de antemão poderia nos perguntar: "o que é o grito dos excluídos?"; e ficarem insatisfeitos com nossas respostas.
Os jovens tem todo o direito de nos questionar sobre isso, uma vez que esse tema raramente aparece nas páginas de jornal, na TV, no rádio... Até podemos dizer que o "Grito" é aquela manifestação realizada no dia 7 de setembro, lembrando que nossa "independência" não nos fez construir um país solidário, livre de corrupção, justo. Todavia qualquer intervenção nesse sentido rapidamente é rotulada como "politicagem", "coisa de baderneiro", "manipulação de partidos"... colocando-nos um forte desafio: como motivar intervenções políticas sem cair nessas armadilhas?
Talvez a palavra "armadilha" possa parecer estranha, mas é justamente sobre esse conceito que podemos explicar nossa não participação. Política é tabu, rotulada de suja, maléfica... Contudo, todos aqueles que "não se envolvem" estão sendo governados por aqueles que se envolvem "até pescoço", criando leis, impostos, falando em nosso nome. E nesse sentido não falo apenas dos "políticos", mas estendendo isso a diversos cristãos que são líderes de movimentos eclesiais, pastorais, padres, bispos - os quais se reúnem com governadores, deputados, prefeitos. Lembro-me quando em minha antiga paróquia o pároco fazia agradecimentos públicos a um paroquiano vereador em todas as festas, e depois virou vice-prefeito de Florianópolis. Ou então, para um caso mais recente, quando há almoço e articulações entre bispos e governadores para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ 2013: Paes e Cabral torcem pela escolha do Rio).
Aqui estamos diante de uma situação frágil porque a política de alto escalão, como entre bispos e governadores, não é considerada suja, sequer suspeita; enquanto os protestos juvenis, de antemão, já possuem esse rótulo. Desse modo, somos pegos pela "armadilha" quando caímos nos extremos de fugir da política (uma vez que é tabu) ou de tentar fazê-la de modo dissociado de nossa fé, deixando a comunidade de lado. Em ambas opções perpetuamos o pensamento de que política e fé não se misturam, embora as autoridades eclesiais continuem a realizar suas políticas de gabinete.
Fique claro que não há problema em padres e bispos fazerem política, porque são governantes da Igreja. O problema é reduzirmos nossa participação política por medo do que os outros irão falar. E, quando falamos política, não se trata da filiação a um partido, movimento social, sindicato... mas o exercício de conversar sobre as injustiças gritantes, e uma atuação sobre elas.
Por hora, não estamos participando do Grito dos Excluídos, mas nem por isso outros jovens ficaram parados - vem fazendo ao seu modo a política que lhes é possível: o fomento a campanhas de coleta de alimentos; os festivais de banda de garagem; a composição de canções, poesias, blogs, vídeos... expressando o que sentem e o que vivem enquanto jovens.
Obviamente, tais citações poderiam não se tratar de política, mas são profundamente políticas, uma vez que nesses espaços esses jovens vão se fazendo enquanto sujeitos, construindo identidade, relacionando-se com outros jovens, tomando decisões. Evidente, eles não estão necessariamente engajados em partidos, sindicatos, grêmios e diretórios estudantis; identificam-se muito mais com perspectivas de associações culturais ou filantrópicas.
O atual contexto eclesial e social exige de nós revisão da tradicional forma de se casar fé e política. Atividades como "Grito dos Excluídos", "Semana da Cidadania", e "Semana do Estudante" são muito pouco motivadas por aqui, isso quando são conhecidas - essa aproximação pastoral está em crise.
Diante desse quadro, enquanto militantes, não estamos autorizados a responsabilizar os jovens por essa condição. A sede de participação continua viva na juventude, a qual embora duvide, questione, suspeite de partidos, sindicatos, líderes estudantis... tem também ciência de que a indiferença em relação ao que está posto não resolve os problemas.
Se por hora estamos afastados do Grito, temos o desafio de descobrir como cuidar dessa dimensão política sem cairmos nos erros clássicos de ativismo e tabus; e aprender a dialogar com essa predisposição ao voluntariado, de visitar asilos, coletar alimentos, agasalho...
Ontem, 20 de setembro de 2011, foi um dia amargo, no qual eu presenciei um espetáculo de teatro na Assembleia Legislativa de Santa Catarina - ALESC. Lá foi votado uma proposta que autoriza a venda de até 49% da Companhia Catarinense de Água e Saneamento, a CASAN; e, antes desta, uma dupla votação para mudar a constituição do Estado de Santa Catarina, para essa autorização ser possível.
Eu poderia fazer uma reflexão sobre as relações público x privado, ou a questão da diretoria da CASAN e seu guarda-roupa de cargos comissionados, que massacra quem lá trabalha honestamente e é concursado. Todavia considero que outros pensadores bem mais habilitados poderão falar sobre esse tema. Sobre o que eu quero falar hoje são as impressões que tive naquele espaço - A Assembleia Legislativa.
Começo pelo choque visual: uma grande escultura de "Jesus Cristo" naquela plenária, sobre a cabeça de todos os deputados, para a qual os mesmos apelam em seus discursos, cumprimentando padres, bispos, e pedindo as bençãos de Deus para tudo o que é feito "em nome do povo catarinense".
Pois bem, chego na plenária às 14:00, recepcionado por um pelotão de policiais, os quais me alertaram que não poderia entrar com meu guarda-chuva, e perguntaram se eu carregava água e outras coisas em minha bolsa. Senti-me profundamente ofendido com aquele tratamento, porque eu não estava sendo apenas interrogado, mas vigiado a todo o tempo como alguém que pudesse estar planejando algum atentado contra aqueles deputados. Será que já não era o bastante o que estava sendo feito pelos deputados?
Entro na plenária, bastante gente na casa, e um clima consideravelmente tenso. Muitos dos que ali estavam eram funcionários da companhia, mas também havia ali pessoas de diferentes áreas: professores, estudantes, aposentados... inquietos com o que seria feito naquela casa e com o modo que se faria aquela votação.
Com um certo atraso, começa a sessão, com menos de 10 deputados - estavam fazendo provavelmente outra coisa para não estar ali, sabe-se lá o que. Um senhor na mesa começa a leitura de tudo o que tinha acontecido em uma velocidade superior àqueles jogos de futebol narrados no rádio, faltando apenas um grito de gol ao final de seu pronunciamento.
O povo lá de cima clamava "Não à privatização", todavia esse grito parecia apenas um ruído àqueles senhores que lá embaixo se reuniam, chegando inclusive a nos chamar pelo microfone de mal educados, quando o nome do governador foi citado e as vaias começaram.
Entendo que um governador eleito seja uma autoridade, e, como qualquer pessoa, mereça respeito. Mas como algum daqueles deputados poderia acusar-nos como mal educados se estavam tratando daquele jeito um tema tão delicado?
Durante esse tempo, enquanto os policias não vinham me mandar sentar, ficava de pé naquele espaço olhando para aquela imagem sobre a plenária: como é que um discurso sobre "democracia", "igualdade", "outro mundo" e uma imagem de uma pessoa que morre em nome daquilo... é negado de modo tão explícito? Fiquei me perguntando se todos os "bons cristãos" homenageados por aqueles senhores pensaria sobre isso: aprovaria? Reprovaria? Fingiria que não é consigo?
Ao fim do dia, havia do lado de fora um carro de som, para o qual as pessoas se dirigiram para participar de uma avaliação de tudo o que aconteceu ali. Minhas inquietações ficaram um pouco mais brandas quando vi aquela gente, especialmente da CASAN, aproximar-se lentamente para ouvir o que seria dito.
Infelizmente, e isso falo de modo muito pessoal, notei que demos mais atenção ao que os deputados que ali estavam do que os funcionários da CASAN, deputados que falaram bonito, e depois foram embora. Depois das falas dos deputados, outros iam falando na necessidade de "fortalecer a base", "não desanimar"... enquanto o povo ia saindo, devagarinho. O mesmo povo que inicialmente tinha se aproximado do carro de som para participar daquela conversa.
Me senti como naquelas Igrejas onde o padre ou o pastor é mais importante que o povo que está ali. Evidente que a autoridade é alguém importante, mas não pode ser o centro das atenções. Aquele momento era o momento do povo que tinha sido chamado de mal educado falar o que estava sentindo, porque os deputados já haviam falado no microfone da assembleia seus pontos de vista. Ali fora era o momento daqueles que quisessem falar "porra" pudessem falar, sem serem chamados de mal-educados.
Diante disso alguém poderia me dizer: "o fato é que a CASAN foi privatizada!", e de fato essa é a causa que deixou tantos ali cabisbaixos. Mas não adianta nada nossas intervenções serem apenas outras "catequeses" ou "aulas magnas". Quem falou naquele microfone foram os deputados e os dirigentes sindicais, que falaram PARA os que estavam ali, mas não COM. E a prova disso é que o povo não ficou, foi embora, assim como os deputados foram embora.
Falei isso sobre os deputados e os dirigentes que ali estavam, mas não vim aqui para falar mal de nenhum deles, até porque vejo que eles fizeram um trabalho dentro do que era possível. Inquietou-me sim o povo não se sentir à vontade de falar, mesmo que fosse para dizer "porra!". Eles tem muita garra para fazer política, lutar por algo melhor, mas precisamos de uma outra forma de construir isso se queremos que eles estejam engajados. O que aconteceu ontem foi algo muito violento para todos os que estavam ali.
A maioria daquelas pessoas não domina as categorias de análise dos antagonismos de classe, os interesses econômicos e as redes de Sociedades Anônimas que permeiam os partidos e a política que ali aconteceu. Todavia eles estão imersos no cotidiano daquele companhia, sabem quem são os chefes indicados, quem é competente ali dentro e quem não é. Eles podem ter dificuldades com o ambiente da ALESC, mas na CASAN eles estão em casa, tem suas relações mais próximas, tanto politica como afetivamente. E é ali, em cada instalação dessa companhia que uma bonita história de resistência continua, contra os privilégios daqueles comissionados que nunca pegaram um cano na vida mas posam de "gerentes", "diretores", "chefes"...
Pois bem, naquele dia chorei, um pouco por tristeza pelo que aconteceu, e também pela alegria da força do que estava começando ali na frente daquela Assembleia Legislativa. Para os que não viram ainda o filme "A Coorporação", deixo dois trechos desse video que me lembram essa história:
A juventude católica brasileira passa por um momento histórico muito importante. Proponho com estas linhas, trazer uma reflexão que ao meu ponto de vista se faz necessária.
Nos últimos meses, toda a igreja do Brasil se esforçou para enviar aquela que foi a maior delegação do país a uma Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Cerca de quinze mil jovens (e não mais jovens, diga-se de passagem), foram até Madrid em Agosto (2011) e vivenciaram uma forte experiência de fé. Na bagagem, mais que lembranças, trouxeram a responsabilidade de realizar no Rio de Janeiro a JMJ 2013. Antes mesmo disto, a CNBB já tinha tomado algumas atitudes para por em pratica a opção preferencial que a Igreja assumiu pelos jovens em Puebla, como a definição da campanha da fraternidade 2013 direcionada à juventude, a criação da Comissão Episcopal para a Juventude (dando assim maior estrutura para o trabalho de evangelização dos jovens), e a “tomada” do DNJ que durante 25 anos foi atividade da Pastoral de Juventude do Brasil (Antiga PJB que foi extinguia pela CNBB e que era a união das quatro pastorais de trabalho específico com as juventudes: Pastoral da Juventude – PJ, Pastoral da Juventude Estudantil – PJE, Pastoral da Juventude do Meio Popular – PJMP, e a Pastoral da Juventude Rural – PJR).
Mas nos regionais, dioceses e paróquias, o papo do momento é sem duvida a JMJ Rio 2013. Já existe até uma corrida onde o objetivo é enviar o maior numero possível de ônibus a essa atividade! Esse entusiasmo começa pelos padres e religiosos e acaba tomando conta de toda a comunidade que acha que está fazendo um grande bem à juventude, e logo ao futuro da Igreja. Só que estamos esquecendo um pequeno detalhe que até aqui deixei de lado propositalmente: No Brasil, ao falar de “Juventude” estamos na verdade falando daS JuventudeS, e é a partir deste ponto que começa o problema.
Algumas das juventudes católicas em nosso país sempre se diferenciaram por pautar as grandes temáticas relativas à vida dos jovens pelos próprios jovens. Pelo sonho do reino de Deus já neste mundo, pelo sonho não, pela luta por este reino, dando assim grande contribuição não só à Igreja (com inúmeros padres, religiosos/as e leigos/as consagrados/as), mas também a toda a sociedade (muitos/as gestores/as públicos/as tiveram suas formações na militância das juventudes católicas).
Ao focar todas as atenções para a JMJ Rio 2013, estamos correndo o risco de abafar tantos outros trabalhos iniciados no seio da Igreja do Brasil. Exemplo disto é a Campanha Nacional Contra a Violência e Extermínio de Jovens, promovida pelas Pastorais de Juventudes a partir de um grito jovem contra a violência, que desde 2009 tem feito um importante trabalho de base levando o debate que se faz necessário para as rodas de amigos, paróquias, os conselhos de moradores e ao poder publico. Esta campanha tem fim no segundo semestre de 2012 com uma grande marcha nacional contra a violência e o extermínio de jovens e que pouco ou nada se tem falado a respeito. Sem falar no espaço que estas juventudes terão na JMJ Rio 2013. No evento de “Boas Vindas” do símbolo maior da Jornada no Brasil, numa vasta programação só nos coube espaço para o Zé Vicente. E não me venham falar que não estamos focando todas as atenções na Jornada, porque o DNJ, por exemplo, que sempre discutiu questões pautadas pelos Jovens, em 2013 vai “discutir” a temática da JMJ já anunciada pelo Papa (Ide e fazei discípulos de todos os povos), e não me impressionará se o tema da Campanha da fraternidade for por esse lado também.
Aprendi na pequena experiência de trabalho com juventude, que o trabalho que surge de objetivos claros e concretos e com uma metodologia consistente, tende a resistir aos ventos do tempo e das adversidades. Estamos vivendo um tempo de articulação das Juventudes Católicas, e me assombra a idéia de que o único objetivo claro nesta articulação seja a participação maciça na Jornada do Brasil.
A JMJ Rio 2013, já começou. A Cruz está rodando todas as dioceses deste imenso país. Aqui em Recife, na nossa ultima reunião da Comissão Episcopal para a Juventude (em Setembro 2011) às portas de um DNJ, volta e meia a Jornada vinha à tona e tirava todo o foco da reunião. Os trabalhos com as juventudes feitas no Brasil estão se adaptando à JMJ, quando eu penso que era a JMJ que deveria se adaptar aos trabalhos feitos no país para que estes sejam fortalecidos, pois a Jornada é passageira, quanto que as Pastorais e Movimentos são permanentes. Quando a Cruz da Jornada sair do Brasil, os Movimentos e Pastorais continuarão aqui, e não podem viver apenas de lembranças.
Da mesma maneira, as expressões juvenis não podem remar contra a maré neste momento, ou estão fadadas e ver a onda passar e levar as sementes lançadas com muito esforço. Ou os agentes pastorais e as lideranças dos movimentos se inserem no processo de construção da JMJ Rio 2013, buscando um maior poder organizativo de suas respectivas expressões, para fazer da Jornada um sucesso não só na semana que acontece, mas também no Pós Jornada, ou teremos que assistir essas expressões virando guetos, e ao termino da jornada, os jovens se dispersarem com a mesma facilidade que se reuniram. Do que adiantará a JMJ no Brasil, se em muitas Igrejas Locais os trabalhos com as Juventudes continuarem sendo perseguidos, abafados, difamados, por inúmeros motivos? Do que adiantará a JMJ no Brasil se os jovens continuarem a serem vistos como o problema, como a mão de obra pra traçar a massa, carregar tijolo e limpar a igreja e não como sujeitos com anseios, sonhos e esperanças, com necessidade do encontro pessoal com o sagrado, e com vontade de traçar seus próprios caminhos?
Será lindo ver todas as Juventudes Católicas do mundo em terras brasileiras (um dos países mais católicos do mundo), mas será mais ainda, se as Juventudes brasileiras chegarem em 2013 organicamente fortes, articuladas, e cheias de jovens a fim de viver uma vida de compromisso com o projeto de Cristo. Penso que apenas assim, a igreja do Brasil colherá os frutos da Jornada Mundial da Juventude Rio 2013.
*Neyl Santos é jovem de 20 anos, secretário Arquidiocesano da PJMP e da CAP Juventude em Olinda e Recife. Desempregado como tantos outros de sua idade. Contador de historias e poeta popular.
Queridos irmãos, com muito carinho começarei um tradicional trabalho de assessoria que é recolher ideias clássicas, de pensadores, padres, leigos... sobre um tema muito caro a nossa caminhada de Igreja, especialmente no Brasil, que é a Jornada Mundial da Juventude.
Com o anúncio do Santo Padre vindo para cá nessa data, nada melhor que o recolhimento do trabalho de pessoas muito sérias que estão elaborando, produzindo reflexões e trabalhando muito para que esse processo seja sinal do anúncio de Deus no meio da Juventude.
Assim, estaremos trabalhando nos próximos posts com esse tema. Se você também possui uma contribuição, por favor nos avise.
Tocar em assuntos polêmicos é tarefa difícil quando falamos da relação Jovem e Deus. Mais fácil seria mexer nas áreas que são mais tranquilas, sem tantas sutilezas ou tabus. Mas aí me pergunto se eu teria algo interessante a falar sobre a juventude, porque ela é pulsação, é energia, é novidade, é inquietação... não apenas as "águas mansas".
Primeiro, perdão se agora estou falando SOBRE a juventude e não PARA ela. Porque um dos lugares da juventude é o boteco, seja ele na forma dos chique "PUB's" ou o mero "cachorro quente do seu Zé", independente da vontade dos adultos. E antes que pipoque a dúvida "cachorro quente = boteco?", digo que sim, porque segundo o dicionário HOUAISS:
"Boteco (uso pejorativo): pequena venda tosca onde servem bebidas, algum tira-gosto, fumo, cigarros, balas, alguns artigos de primeira necessidade etc. ger. situada na periferia das cidades ou à beira de estradas; birosca"
Até mesmo o dito "inocente" cachorro quente tem características de boteco, só que ao invés de porção de batata frita se pede o cachorro quente, tendo tanto cerveja como refrigerante. Mas as características de sentar-se, comer, beber, falar da vida, desabafar os amores, esquecer um pouco do trabalho e do estudo... permanecem as mesmas.
Voltando a cruel dúvida, se Jesus frequentaria a "birosca", o "buteco", se este se faria presente nesse antro de "bebedeira"? Afirmaria com toda a tranquilidade: ele não teria problema algum de estar nesse meio. Afinal, as palavras de Mateus (25, 38) são bem claras:
"Quando foi que te vimos como estrangeiro e te recebemos em casa, e sem roupa e te vestimos? Quando foi que te vimos doente ou preso, ou fomos te visitar?
Eu garanto a vocês: todas as vezes que vocês fizeram isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram."
Jesus se identificou com a vida e o sofrimento do povo, dialogou com os leprosos, inclusive tocando os "intocáveis", "impuros"; sentava-se à mesa com os pecadores, sofrendo todo o tipo de calúnia e difamação dos puritanos de sua época, especialmente os fariseus (Mt 11,19):
"Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizem: 'Ele é um comilão e beberrão, amigo dos cobradores de impostos e dos pecadores'"
Tranquilo? Penso que não, porque a conversa está apenas começando. Caso eu pare por aqui, certamente alguém poderá dizer que eu estou fazendo apologia ao alcoolismo ou justificando as bebedeiras.
Distinção entre o [Vinho Partilhado] e a [Mercadoria Bebida]
Pretendo primeiro esclarecer porque esse texto não é apologia ao alcoolismo, e sim uma profunda revisão de uma mística jovem, a qual chamarei de mística do boteco. E para isso entrarei na discussão das drogas e as limitações das atuais análises.
Uma das maiores falhas de nosso padres e pais quando vão conversar com nossos jovens sobre o boteco, especialmente quando entram na questão das drogas, é que eles não tocam nas questões mais profundas. Limitar-se a discutir o consumo de bebidas alcoólicas é pensar que a ponta do Iceberg é o Iceberg todo. A crise maior no alcoolismo não é o consumo, isso é um sintoma, mas sim é a produção, uma produção voltada a venda de mercadorias, em escala global e industrial.
O Vinho das bodas de Caná não movimentava capital de giro de indústrias que precisam melhorar sua produtividade, aumentar as vendas, captar novos clientes, expandir e conquistar novos mercados, pagando o preço que for. Demos uma rápida olhada nesse cartaz de cerveja:
Fazendo as adequadas "proteções" da marca e do rosto da modelo, digamos o que é que está no centro do cartaz, bem no meio do copo. Sim, é um corpo, um corpo em posição sensual, pronto para o consumo. É uma mulher? É óbvio que quem está ali é uma mulher! Mas a sua perna "torneada", o olhar "marotinho" para a câmera não visa expressar como ela frequenta o boteco, tanto que ela não está ali como pessoa, com nome, história. A finalidade dessa foto é mostrá-la como um objeto de prazer, tal como a cerveja que estará naquele copo, saciando a sede de quem o beber.
As pessoas não precisam imaginar que há mulher no copo quando forem tomar sua cerveja. Há outras razões que levam as pessoas a tomarem a bebida que são muito mais antigas do que cartazes como esses. A questão de associar a imagem da mulher, como objeto sensual, ao consumo da cerveja visa uma questão simples: aumentar as vendas.
Falei em aumentar as vendas, então estou voltando para o consumo, certo? Errado, porque antes de existir as vendas, temos um problema que é muito maior, que é movimentar a economia. Toda a nossa ladainha sobre "Brasil crescendo" perpassa a produção de bens de consumo (celulares, bebidas, automóveis...), e para que as indústrias dêem conta de "escoar" a produção, é preciso vender, e vender muito. Por trás de todo esse discurso que falamos sobre "consumismo", esquecemos de citar a produção de mercadorias e a produção de necessidades para as vendas. Ninguém acorda pensando "hoje eu quero um celular de dois chips" antes de existir tal produto e o mesmo ser fortemente divulgado. É só dar uma olhada no Vídeo da Jornada Mundial da Juventude de 2011:
"Na verdade, nunca sonhamos com ir a uma Jornada Mundial da Juventude. A razão é muito simples: ainda não existia"
Com o devido cuidado de não comparar a JMJ ao consumo de álcool, estou dizendo que foi primeiro a existência de algo que depois criou o "desejo" pelo consumo desse algo. E essa crise entra num patamar mais forte quando entra a questão a resistência física: ao contrário do adulto, que tem a ameaça próxima de cirrose, os jovens têm um fígado forte, que se regenera rapidamente, o que possibilita acostumar-se com o alto consumo de bebidas alcoólicas durante a juventude e posteriormente e levá-lo para a vida adulta.
É horrível dizer isso, mas nossos pais e padres têm medo de criticar a lógica do sistema capitalista quando vão falar de drogas, não entendem como a cerveja sendo mercadoria, produzida em quantidade absurda e a preços acessíveis, necessitando girar capital, e tendo um lobby ferrenho de propaganda, irá gerar a "necessidade" de seu consumo exacerbado. Ou pior, pensam que é só nos "amiguinhos" que está o "mal caminho" (aliás, palavras horríveis, diga-se de passagem), e que a lógica de nossa economia não tem influencia alguma nisso. O mercado global de heroína não é "mercadinho de fundo de quintal", tem logística, esquema de segurança, corrupção de polícias, etc.
Uma vez explicado o conceito da bebida como mercadoria, voltemos ao aspecto central da mística do boteco, e as bodas de caná...
A mística de Caná: Vinho melhor foi guardo para o final
Na época em que meu pai reclamava que eu só tomava vinho "porcaria", aquele da garrafinha de plástico, e me falava da necessidade de saber apreciar um bom vinho, eu lembro que no grupo de jovens rolou uma discussão sobre o milagre da transformação da água em vinho, com uma pergunta muita engraçada: "afinal, Jesus tomava ou não tomava álcool?".
Tinha um monte de gente que dizia que era erro de tradução, que o correto era suco de uva, etc.; mas não é aí que está a grande questão. A grande questão é o contexto em que o "milagre" aconteceu, era uma festa de casamento...
O quadro acima é uma pintura africana de Jesus nas bodas de Caná, não é uma "heresia" porque os europeus fazem o mesmo (só que o Jesus nos quadros deles é "loirinho" dos olhos azuis; Maria parece polonesa; e as mesas de suas pinturas são altas e com cadeiras, distintas das mesas que os judeus usavam, sentados ao chão). Sua riqueza é trazer essa coisa de nossa cultura, gente negra, bronzeada do sol, com roupas simples.
Aí estava Jesus, na festa, e o vinho acabou. E quem vem "reclamar" que acabou o "goró" foi sua mãe, Maria, sim, Maria de Nazaré, a virgem, aquela que a gente costuma tratar como a puritana. Foi Maria que disse para Jesus "eles não tem mais vinho" (Jo 2,1-12).
Jesus, por sua vez, se faz de desentendido: "Mulher, que existe entre nós? Minha hora ainda não chegou!". Que relação ele tinha com aquela gente? O que deveria ser feito? Ele obedeceu a mulher, e fez a alegria do povo, que chegou a falar para o noivo, na figura do mestre-sala:
"Todos servem primeiro o vinho bom e, quando os convidados estão bêbados, servem o pior. Você, porém, guardou o vinho bom até agora."
Que coisa bonita, é só falar a palavra festa que já vem aquela alegria no coração: preparar a melhor roupa, dar aquela ajeitada no visual, chamar as pessoas para viver algo especial. Pois bem, a riqueza desse vinho é que ele foi partilhado, ninguém estava tomando porque havia uma festa para divulgar a marca da vinícola ou porque estava pagando R$ 30,00 para entrar no clube. Aquilo era gratuidade, os noivos queriam que fosse um dia diferente.
É óbvio que não dá para ficar jogando as coisas de modo irresponsável, afinal, pessoas trabalharam para organizar aquela festa, as coisas não surgem "de graça". E aí que eu falo que a juventude tem algo muito bonito a nos ensinar...
A mística do boteco: o pedido final do sambista
Quando a gurizada se reúne no boteco, curte seu sambinha, toca violão, mesmo quando toma sua "pecaminosa" cerveja... ainda que condicionados por todas as relações capitalistas de venda de bebidas, consumo de drogas, etc., existe aí uma subversão dessas relações. Eles celebram de uma forma diferente sua vida, partilham uns com os outros suas rotinas, suas alegrias, suas frustrações. O "racha" ou "intera" para comprar aquele refri 2 litros ou porção de batata expressa o seu modo de partilhar o que possuem. Eles podem não ter muito, mas partilham suas economias. De vez em quando aparece aquele que diz um surpreendente: "galera, hoje é por minha conta!", no caso do recebimento do seu primeiro emprego, primeiro salário, fim das aulas, etc. Mesmo que o proprietário do bar (talvez sonegador de impostos) e as produtoras de bebidas (querendo apenas aumentar suas vendas) não tenham compromisso algum com a vida dessas pessoas, a partir de tais relações elas constroem suas relações comunitárias. É fato que suas contradições lhe condicionam a episódios não tão bons de se lembrar, como um porre ou um "fora" de uma pessoa que lhe estava deixando louco(a) de desejo, mas ali essa pessoa vive momentos que a casa, a escola e o trabalho talvez nunca lhe proporcionem. E por isso que, quando os mais velhos lhes dizem que tudo aquilo é "perdição", talvez eles tenham ainda mais gana de ir para lá: pois essa "perdição", carregue um certo que de "encontrar-se", se não um "encontrar alguém". Quando conversei com um guri numa formação da Pastoral da Juventude sobre o samba de boteco, ele me disse que ali ele se sentia muito bem. E nesse instante fiquei atônito, ao perceber que meus olhos estavam como que fechados: nesse boteco ele estava também desenvolvendo relações comunitárias, de partilha, de boa nova, de ter esperança na vida. Eu não nego que ocorra nesse espaço problemas graves como a entrada de jovens no mundo da droga, mas também não posso dizer que outros espaços estão imunes de contradições. Se assim fosse, nunca existiriam padres pedófilos ou corruptos no seio da Igreja Católica, que seria, teoricamente, um exemplo de decência em todos os sentidos. Peço perdão se me desviei da reflexão central, não estou aqui para afirmar o boteco em detrimento de nossas capelas e da hierarquia. Estou sim é pedindo para que nos atentemos a isso, se até mesmo os cristãos mais puritanos, que tem "nojo" da palavra "alcóol", organizam proposta como "Barzinho de Jesus", é porque o boteco tem algo a nos ensinar sobre a vida da juventude. Esse ensinar está em muitas coisas, inclusive em um modo de falar de partilha e sonhos talvez muito mais pedagógico e espontâneo aos jovens do que nossas longas homilias e pregações em palco sobre a "pedagogia de Jesus". Essa coisa da gurizada na rua me inquieta, porque estou cada vez mais em dúvida quem é que está perdido em que. Se o problema é que a juventude "venha para dentro da Igreja", ou se somos nós que estamos com medo de "ir para a rua", indo ao seu encontro. Não vejo, nem mesmo nas propostas ditas mais "revolucionárias", como o Setor Juventude, esse anseio de sairmos da sacristia. As palavras de uma música cantada por Alcione me fizeram até chorar, com uma espécie de alusão ao processo da paixão de Cristo e a delegação de sua autoridade aos seus apóstolos. É quase como um "façam isso em memória de mim":
"Antes de me despedir
Deixo ao sambista mais novo
O meu pedido final...
Não deixe o samba morrer,
Não deixe o samba acabar,
O morro foi feito de samba,
De samba, prá gente sambar..."
É algo inexplicável, o que é essa coisa de batuques, toques, passos, mesas, sorrisos? Leonardo Boff dizia que "acreditar em Deus é coisa de Europeu, a gente daqui sente Deus!". Eu não sei explicar isso para um europeu, lá não tem samba. As minhas pernas balançam conforme a música, os braços deslizam para lá e para cá com a batucada, o povo da mesa olha para a gente e ergue o copo, e daí meu amigo chega perto, me dá um abraço e me diz: "cara, que coisa boa estar aqui contigo, você faz muita falta!". Como é que eu posso dizer que Deus não está vivo nessa gurizada? Tinha tudo aquilo que o povo diz "perdição", mas o que posso falar de uma coisa assim tão bela, tão espontânea? Quantos jovens cristãos não sonhariam em ouvir uma coisa dessa nas suas comunidades de modo espontâneo? Jesus talvez esteja proibido de passar no botecos e curtir o sambinha, mas que ali tem milagre de vez em quando, ah, isso tem...
Pude passar algumas horas nessa bela cidade catarinense que muito bem me acolheu, assim como nosso companheiro PJoteiro Daniel. Não faltava no café da manhã um cafézinho bem quente e uma boa cuca, bem preparada, que já inspirava meu estômago e minha mente para essa tal "Missão Jovem" que ronda os corredores dessa região. Garcia, Terceira Linha, Barra Clara, Betânia... os nomes dessas comunidades atiçavam minha curiosidade, o que encontraremos por lá? O que esperam de nós? Será que conseguiremos ajudá-los nessas missões?
Fiquei tão feliz quando soube que pelo menos 15, das 18 comunidades da paróquia, já aceitaram nossa disponibilidade para ir até lá fazer as missões. Em menos de um mês estaremos levando nossos líderes missionários para percorrer os seus caminhos, bem ao estilo "Com a roupa encharcada e a alma repleta de chão todo o artista tem de ir aonde o povo está", tão bem dito por Milton Nascimento. Afinal, não seriam os poetas, músicos, jovens... portadores de uma Boa Nova?
Em homenagem ao carinho desse povo, especialmente na figura de minha amiga Regiane e a comunidade da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição, repasso esse lindo soneto, de autoria de Sebastião da Cruz:
Aquelas palavras de Jesus que nos desafiam: "a messe é grande, mas os trabalhadores são poucos" (Lc 10,2), me fizeram parar pra pensar que o êxodo dos jovens mais velhos na caminhada, daqueles que começaram com 15 ou 16 anos a participar de um grupo grupo e vão embora quando mais velhos, se deve mais a uma situação econômica do que psicológica. E explico meu pensamento.
É comum a gente pensar que quem fica mais velho tende a ir embora apenas porque não aguenta mais assitir a uma 5.ª reunião sobre amizade ou namoro cristão; ou talvez porque já se sinta cansado de fazer sempre a mesma coisa e percebe que é hora de outras pessoas assumirem o comando. Isso tudo é verdade, mas considero que seja secundário ante o imperativo da busca por trabalho e renda.
Há uma relação entre a condição econômica e a chance do jovem permanecer por mais tempo num grupo de base, pastoral ou movimento, desenvolvendo seu processo enquanto militante. Pois à medida em que estes são obrigados a se sujeitar às condições impostas pelo mercado de trabalho (como horários de trabalho no domingo e no sábado, férias definidas pela empresa, jornadas extras...), eles possuem cada vez menos tempo disponível em relação ao que dispunham enquanto adolescentes:
A presença em reuniões durante a semana, caso trabalhem e tenham de estudar à noite, ficam mais difíceis.
Os fins de semana, no caso de retiros, cursos, acampamentos, viagens... não dependenderiam apenas mais do aval dos pais, mas também da licença do serviço.
Havendo um desgaste físico e mental a ser reposto no fim de semana, ou no dia de folga, exige-se maior tempo de descanso. O que sobrar deve ser compartilhado entre família, amigos, namoro, pastoral, filhos...
Dito isso, não estou tratando de uma relação causa-efeito, como se quem tivesse melhor condição econômica conseguiria vivenciar mais o processo do grupo de jovens. Estou destacando que a nossa "falta de operários" para a Evangelização não se deve apenas a uma "falta de vontade pessoal" ou "descompromisso" dos jovens militantes, mas especialmente a imposições econômicas, que tiram tempo, vida e energia do jovem. E ele tem que "gastar isso" para conseguir o seu sustento, nem que para isso tenha de abrir mão de coisas que sejam tão significativas.
A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) se posicionou e destacou em que discorda dos atuais reality shows em sua nota (clique aqui para ver a nota na íntegra).
Pois bem, tiro o chapéu à nossa conferência por manifestar sua posição perante toda a sociedade, mas sou obrigado destacar a timidez dos bispos do Brasil na superação dessa situação: embora decididos em apelar às emissoras de televisão, o ministério público, pais, mães, educadores, anunciantes e agentes publicitários atitudes ante esses programas, o fazem reproduzindo a lógica do jogo. O que vou explicar nos próximos parágrafos.
Programas como BBB se destacam não apenas pela questão financeira ou o palco, mas pela sua capacidade massiva de educar-nos à submissão ao sistema por sua promessa. Perdão, não se assustem pelo palavrão. Vou explicá-lo ponto a ponto e dizer porque considero tímida a nota dos bispos.
Como muitos de vocês sabem, o reality show é um jogo televisionado, possui um conjunto estabelecido de regras, como não poder sair da casa, participar das atividades, utilizar microfones, submeter-se a entrevistas, etc. Todavia é um jogo no qual não se discutem as regras, pois já estão estabelecidas à priori pelos seus produtores, e não são escolhidas "ao acaso", tem um porquê de ser assim. No caso do microfone, é para que o máximo de conversas e sons produzidos sejam registrados e, assim, possíveis de serem exibidos.
Dentre todas as regras estabelecidas, a regra de ouro desse programa é a necessidade de eliminação, sobre a qual o programa constrói sua mais expressiva audiência, nos dias de "paredão". É regra de ouro porque sobre ela é que se naturalizam a lógica da competição predatória, a inversão do caráter e a submissão incontestável ao sistema.
No jogo, uma pessoa ganhará grande quantia de dinheiro, além de status; mas para isso todos os outros deverão ficar para trás, eliminados, de alguma maneira. A cooperação e solidariedade com outras pessoas só é válida se temporária, visando a auto-preservação do jogador ou a eliminação de outro, mas não pode ser sustentada por muito tempo. Opor-se a isso é morrer enquanto jogador, sendo eliminado pelos próprios "companheiros" ou nos votos. A mentira, a manipulação de pessoas, emoções e informações se tornam instrumentos de sobrevivência. Embora condenados em nossa moral, são aceitos como vitais para o sucesso do bom jogador.
Sendo televisionado, o jogo convida diariamente os telespectadores ao rito da "espiada" e da votação (eliminação), fazendo da invasão da intimidade e a exclusão de pessoas atividades agradáveis, inclusive com estatísticas, entrevistas, torcidas. A promessa do prêmio alivia todo o tipo de estranhamento a esse rito, conseguindo inclusive o efeito inverso: fomenta coletivamente a vontade de participar, seja espiando, jogando ou simplesmente perguntando o que está acontecendo. Critica-se a eventual desvalorização dos costumes, mas a curiosidade pelo "que se passa" é grande.
Entrando finalmente na timidez da crítica dos bispos, ela trata os reality shows como uma agressão "aos valores morais que sustentam a sociedade", quando o real efeito desse tipo de programa é construir valores que sustentam essa sociedade: capitalista, competitiva, predatória, do espetáculo e da exclusão. Programas como o BBB cumprem o papel de pão e circo do século 21, legitimando o uso de pessoas como coisas, objetos para se "ganhar na vida", descartáveis em vista da promessa do prêmio para aquele que melhor se submeter à lógica do sistema.
Não peço aos bispos para que vistam bandeiras vermelhas, tenham barba como o Chê Guevara ou declarem guerra ao capitalismo, pois não considero que este seja o papel da Igreja Católica. Mas considero vital alertar aos cristão que essa "sociedade", na qual reality shows fazem o que fazem, está sendo por hora mantida por programas como esses. Eles não a agridem, ajudam a manter essa ordem. Uma ordem que trata como natural a falta de dignidade às pessoas e a injustiça na distribuição da riqueza. É justo uma pessoa ter 1 milhão de reais sozinha enquanto milhões de outras pessoas estão sem o que comer? Nessa sociedade, parece que sim...
Nesse sexta nos reunimos com a galera da coordenação da PJ da arquidiocese: Verônica, Leonardo, Felipe, João e Daniel. Dos assessores, estavamos: eu, Leni e Zé Rodrigo. Acabamos ficando meio tristes com o comunicado de saída da Verinha, que agora está no final do seu curso profissionalizante e assumindo um novo trabalho. Mas ficamos tri-felizes quando ela disse que mesmo assim quer ajudar o pessoal nessa nova fase.
Quando escutamos a história do Felipe, rapaz gente finíssima da Lagoa, com uma história de vida muito bonita e revolucionária, quase chorei de emoção. Do mesmo modo com o João Sartori, companheiro marotinho, que veio lá de Barreiros, numa comunidade de intensos conflitos com pessoas que não entendem o jovem. O Daniel, de Itajaí, e o Leo, da Santo Antônio, eu já conhecia, mas fiquei muito feliz ao poder conhecer mais detalhes da história desses caras. Digo isso também dos meus conhecidos Zé Rodrigo e Gislene, com quem temos aprendido muito nessa caminhada.
Foi uma reunião com mais de 3 horas de duração, puxada, e com uma série de coisas pendentes p/ se fazer na próxima, mas com um contagiante ar de renovação e fogo; embora não saibamos se teremos pernas para acompanhar isso tudo (acompanhantes estão em falta, e tem uma cara de atividades para se fazer). O jeito é rezar para o Bom Deus para que nos ajude nessa nova fase. E que venham os desafios!
Apesar da homenagem à dupla Victor e Leo, no clássico "O Cuidador do fogo", esse blog trata de outra chama, a qual chamamos por história da Pastoral da Juventude, legado, memória... de toda uma caminhada baseada no legado de um tal Jesus, tornado Cristo.
O autor que aqui escreve é tão somente "UM" entre tantos cuidadores, que estão por aí, velhinhos, dinossauros, caminhando um pouco mais devagar... mas nem por isso menos determinados. Queremos com muita gana acompanhar as novas gerações, auxiliá-las em seus projetos de vida... e até mesmo comprar algumas brigas quando necessário, pois manter o fogo aceso exige que enfrentemos até mesmo chuva.