segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Por que nós (PJ) não participamos do grito dos excluídos?

   Hoje escrevo aos irmãos de caminhada militantes, sobre um tema delicado para a Pastoral da Juventude na Arquidiocese de Florianópolis: a nossa (falta de) participação no Grito dos Excluídos. Digo que escrevo para os militantes nesse momento porque a primeira dificuldade dessa conversa ser mais ampla é que a maioria de nossos jovens de antemão poderia nos perguntar: "o que é o grito dos excluídos?"; e ficarem insatisfeitos com nossas respostas.
   Os jovens tem todo o direito de nos questionar sobre isso, uma vez que esse tema raramente aparece nas páginas de jornal, na TV, no rádio... Até podemos dizer que o "Grito" é aquela manifestação realizada no dia 7 de setembro, lembrando que nossa "independência" não nos fez construir um país solidário, livre de corrupção, justo. Todavia qualquer intervenção nesse sentido rapidamente é rotulada como "politicagem", "coisa de baderneiro", "manipulação de partidos"... colocando-nos um forte desafio: como motivar intervenções políticas sem cair nessas armadilhas?
   Talvez a palavra "armadilha" possa parecer estranha, mas é justamente sobre esse conceito que podemos explicar nossa não participação. Política é tabu, rotulada de suja, maléfica... Contudo, todos aqueles que "não se envolvem" estão sendo governados por aqueles que se envolvem "até pescoço", criando leis, impostos, falando em nosso nome. E nesse sentido não falo apenas dos "políticos", mas estendendo isso a diversos cristãos que são líderes de movimentos eclesiais, pastorais, padres, bispos - os quais se reúnem com governadores, deputados, prefeitos. Lembro-me quando em minha antiga paróquia o pároco fazia agradecimentos públicos a um paroquiano vereador em todas as festas, e depois virou vice-prefeito de Florianópolis. Ou então, para um caso mais recente, quando há almoço e articulações entre bispos e governadores para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ 2013: Paes e Cabral torcem pela escolha do Rio).
   Aqui estamos diante de uma situação frágil porque a política de alto escalão, como entre bispos e governadores, não é considerada suja, sequer suspeita; enquanto os protestos juvenis, de antemão, já possuem esse rótulo. Desse modo, somos pegos pela "armadilha" quando caímos nos extremos de fugir da política (uma vez que é tabu) ou de tentar fazê-la de modo dissociado de nossa fé, deixando a comunidade de lado. Em ambas opções perpetuamos o pensamento de que política e fé não se misturam, embora as autoridades eclesiais continuem a realizar suas políticas de gabinete.
   Fique claro que não há problema em padres e bispos fazerem política, porque são governantes da Igreja. O problema é reduzirmos nossa participação política por medo do que os outros irão falar. E, quando falamos política, não se trata da filiação a um partido, movimento social, sindicato... mas o exercício de conversar sobre as injustiças gritantes, e uma atuação sobre elas.
   Por hora, não estamos participando do Grito dos Excluídos, mas nem por isso outros jovens ficaram parados - vem fazendo ao seu modo a política que lhes é possível: o fomento a campanhas de coleta de alimentos; os festivais de banda de garagem; a composição de canções, poesias, blogs, vídeos... expressando o que sentem e o que vivem enquanto jovens.
   Obviamente, tais citações poderiam não se tratar de política, mas são profundamente políticas, uma vez que nesses espaços esses jovens vão se fazendo enquanto sujeitos, construindo identidade, relacionando-se com outros jovens, tomando decisões. Evidente, eles não estão necessariamente engajados em partidos, sindicatos, grêmios e diretórios estudantis; identificam-se muito mais com perspectivas de associações culturais ou filantrópicas.
   O atual contexto eclesial e social exige de nós revisão da tradicional forma de se casar fé e política. Atividades como "Grito dos Excluídos", "Semana da Cidadania", e "Semana do Estudante" são muito pouco motivadas por aqui, isso quando são conhecidas - essa aproximação pastoral está em crise.
   Diante desse quadro, enquanto militantes, não estamos autorizados a responsabilizar os jovens por essa condição. A sede de participação continua viva na juventude, a qual embora duvide, questione, suspeite de partidos, sindicatos, líderes estudantis... tem também ciência de que a indiferença em relação ao que está posto não resolve os problemas.
   Se por hora estamos afastados do Grito, temos o desafio de descobrir como cuidar dessa dimensão política sem cairmos nos erros clássicos de ativismo e tabus; e aprender a dialogar com essa predisposição ao voluntariado, de visitar asilos, coletar alimentos, agasalho...

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