Autor: Neyl Santos*
A juventude católica brasileira passa por um momento histórico muito importante. Proponho com estas linhas, trazer uma reflexão que ao meu ponto de vista se faz necessária.
Nos últimos meses, toda a igreja do Brasil se esforçou para enviar aquela que foi a maior delegação do país a uma Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Cerca de quinze mil jovens (e não mais jovens, diga-se de passagem), foram até Madrid em Agosto (2011) e vivenciaram uma forte experiência de fé. Na bagagem, mais que lembranças, trouxeram a responsabilidade de realizar no Rio de Janeiro a JMJ 2013. Antes mesmo disto, a CNBB já tinha tomado algumas atitudes para por em pratica a opção preferencial que a Igreja assumiu pelos jovens em Puebla, como a definição da campanha da fraternidade 2013 direcionada à juventude, a criação da Comissão Episcopal para a Juventude (dando assim maior estrutura para o trabalho de evangelização dos jovens), e a “tomada” do DNJ que durante 25 anos foi atividade da Pastoral de Juventude do Brasil (Antiga PJB que foi extinguia pela CNBB e que era a união das quatro pastorais de trabalho específico com as juventudes: Pastoral da Juventude – PJ, Pastoral da Juventude Estudantil – PJE, Pastoral da Juventude do Meio Popular – PJMP, e a Pastoral da Juventude Rural – PJR).
Mas nos regionais, dioceses e paróquias, o papo do momento é sem duvida a JMJ Rio 2013. Já existe até uma corrida onde o objetivo é enviar o maior numero possível de ônibus a essa atividade! Esse entusiasmo começa pelos padres e religiosos e acaba tomando conta de toda a comunidade que acha que está fazendo um grande bem à juventude, e logo ao futuro da Igreja. Só que estamos esquecendo um pequeno detalhe que até aqui deixei de lado propositalmente: No Brasil, ao falar de “Juventude” estamos na verdade falando daS JuventudeS, e é a partir deste ponto que começa o problema.
Algumas das juventudes católicas em nosso país sempre se diferenciaram por pautar as grandes temáticas relativas à vida dos jovens pelos próprios jovens. Pelo sonho do reino de Deus já neste mundo, pelo sonho não, pela luta por este reino, dando assim grande contribuição não só à Igreja (com inúmeros padres, religiosos/as e leigos/as consagrados/as), mas também a toda a sociedade (muitos/as gestores/as públicos/as tiveram suas formações na militância das juventudes católicas).
Ao focar todas as atenções para a JMJ Rio 2013, estamos correndo o risco de abafar tantos outros trabalhos iniciados no seio da Igreja do Brasil. Exemplo disto é a Campanha Nacional Contra a Violência e Extermínio de Jovens, promovida pelas Pastorais de Juventudes a partir de um grito jovem contra a violência, que desde 2009 tem feito um importante trabalho de base levando o debate que se faz necessário para as rodas de amigos, paróquias, os conselhos de moradores e ao poder publico. Esta campanha tem fim no segundo semestre de 2012 com uma grande marcha nacional contra a violência e o extermínio de jovens e que pouco ou nada se tem falado a respeito. Sem falar no espaço que estas juventudes terão na JMJ Rio 2013. No evento de “Boas Vindas” do símbolo maior da Jornada no Brasil, numa vasta programação só nos coube espaço para o Zé Vicente. E não me venham falar que não estamos focando todas as atenções na Jornada, porque o DNJ, por exemplo, que sempre discutiu questões pautadas pelos Jovens, em 2013 vai “discutir” a temática da JMJ já anunciada pelo Papa (Ide e fazei discípulos de todos os povos), e não me impressionará se o tema da Campanha da fraternidade for por esse lado também.
Aprendi na pequena experiência de trabalho com juventude, que o trabalho que surge de objetivos claros e concretos e com uma metodologia consistente, tende a resistir aos ventos do tempo e das adversidades. Estamos vivendo um tempo de articulação das Juventudes Católicas, e me assombra a idéia de que o único objetivo claro nesta articulação seja a participação maciça na Jornada do Brasil.
A JMJ Rio 2013, já começou. A Cruz está rodando todas as dioceses deste imenso país. Aqui em Recife, na nossa ultima reunião da Comissão Episcopal para a Juventude (em Setembro 2011) às portas de um DNJ, volta e meia a Jornada vinha à tona e tirava todo o foco da reunião. Os trabalhos com as juventudes feitas no Brasil estão se adaptando à JMJ, quando eu penso que era a JMJ que deveria se adaptar aos trabalhos feitos no país para que estes sejam fortalecidos, pois a Jornada é passageira, quanto que as Pastorais e Movimentos são permanentes. Quando a Cruz da Jornada sair do Brasil, os Movimentos e Pastorais continuarão aqui, e não podem viver apenas de lembranças.
Da mesma maneira, as expressões juvenis não podem remar contra a maré neste momento, ou estão fadadas e ver a onda passar e levar as sementes lançadas com muito esforço. Ou os agentes pastorais e as lideranças dos movimentos se inserem no processo de construção da JMJ Rio 2013, buscando um maior poder organizativo de suas respectivas expressões, para fazer da Jornada um sucesso não só na semana que acontece, mas também no Pós Jornada, ou teremos que assistir essas expressões virando guetos, e ao termino da jornada, os jovens se dispersarem com a mesma facilidade que se reuniram. Do que adiantará a JMJ no Brasil, se em muitas Igrejas Locais os trabalhos com as Juventudes continuarem sendo perseguidos, abafados, difamados, por inúmeros motivos? Do que adiantará a JMJ no Brasil se os jovens continuarem a serem vistos como o problema, como a mão de obra pra traçar a massa, carregar tijolo e limpar a igreja e não como sujeitos com anseios, sonhos e esperanças, com necessidade do encontro pessoal com o sagrado, e com vontade de traçar seus próprios caminhos?
Será lindo ver todas as Juventudes Católicas do mundo em terras brasileiras (um dos países mais católicos do mundo), mas será mais ainda, se as Juventudes brasileiras chegarem em 2013 organicamente fortes, articuladas, e cheias de jovens a fim de viver uma vida de compromisso com o projeto de Cristo. Penso que apenas assim, a igreja do Brasil colherá os frutos da Jornada Mundial da Juventude Rio 2013.
*Neyl Santos é jovem de 20 anos, secretário Arquidiocesano da PJMP e da CAP Juventude em Olinda e Recife. Desempregado como tantos outros de sua idade. Contador de historias e poeta popular.
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